Balanço das consultas de saúde oral no Centro de Saúde
“Há pessoas de idade mais avançada que nunca foram ao dentista”
SA
15-08-2018 às 11:31
No centro de saúde de Arruda dos Vinhos, a consulta de médico dentista também tem sido alvo de muita procura por parte não apenas da população do concelho, mas também de concelhos vizinhos. Os utentes vêm sempre referenciados pelo médico de clínica geral previamente. Cerca de 400 pessoas aguardam neste momento em lista de espera no sentido de obterem uma consulta. Desde o início destas consultas que arrancaram em 2016 em três concelhos do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, Arruda dos Vinhos, Alenquer e Azambuja, que o centro de saúde local prestou 3346 consultas (dados reportados a junho último).
Ângelo Boga optou pelas consultas nesta unidade de saúde tendo em conta que antes teve uma má experiência num dentista local. Ângelo Boga começou a ser seguido nestas consultas no centro de saúde por um médico que já não se encontra mas continuou com a dentista Andreia Rosa e o balanço com ambos os profissionais não podia ser mais positivo.
A história de Ângelo, 69 anos, é um pouco diferente da da grande maioria da população com a sua idade. Emigrado no Canadá durante muitos anos teve sempre acesso a cuidados dentários de saúde públicos. “Lá as empresas são obrigadas a enviar os seus trabalhadores para essas consultas, de modo que tive sempre acesso a tratamento gratuito”. “Sou do tempo em que os jovens abriam nozes com os dentes, quando emigrei tinha os dentes todos escavacados, e foi lá que os arranjei”, recorda. Quando regressou ao país foi com espanto que percebeu que as consultas “custavam 50, 60 ou 70 euros”. Está de novo em Portugal desde há 15 anos, e acabou por descurar a saúde oral. Há 10 anos que não ia ao dentista, de modo que estas consultas acabam por significar o regresso às velhas e saudáveis rotinas. A médica Andreia Rosa afirma que este paciente já vinha com bons cuidados de higiene, “fruto da sua experiência no Canadá onde a realidade é completamente diferente”.
Para a médica que presta serviço nesta unidade de saúde, que conta com duas dentistas nesta área, esta tem sido uma experiência que difere um pouco daquilo a que estava acostumada no setor privado – “Temos contacto com todo o tipo de doentes – polimedicados, com condições financeiras mais baixas, com menos instrução e menos motivação para a higiene oral”. Contudo esta médica que dá consultas desde março deste ano no local refere que “acaba por ser importante quando vemos que em parte os doentes vão tentando ultrapassar velhos hábitos e passam a dar mais valor à higiene oral”. “Tem sido bastante enriquecedor!”. Pela primeira vez tem-se deparado com casos de pessoas “já com uma certa idade que nunca foram ao médico dentista, que ficaram sem dentes ao longo do ano e que contam que foram os próprios a arrancarem os próprios dentes ou o que restava deles, melhor dizendo”.
“Ao longo dos tratamentos vamos tentando moldar as pessoas no sentido de fazerem mais por elas mesmas neste campo, e lá vão aceitando que tem mesmo de ser assim”, refere. “O desafio é muito grande quando queremos chegar a essas pessoas que nunca trataram dos dentes. Ao fim de algumas consultas lá nos vão dizendo que já mudaram a escova ou que já escovam os dentes durante mais tempo”, acrescenta a assistente dentária Joana Roque.
Há quem também chegue a estas consultas a pensar que no fim da extração tem direito a uma prótese quando não é caso por enquanto, “mas também há quem ache que depois de ter vivido uma vida inteira quase sem dentes entenda que já não vale a pena depois da extração do que ainda resta, adquirir uma prótese”, diz Andreia Rosa, que confessa: “Às vezes também é preciso fazermos um pouco de psicólogos”.
Face à procura que as consultas têm suscitado, Andreia Rosa conta que segue atualmente 256 utentes. Quem se inscrever por estes dias no centro de saúde apenas conseguirá a primeira consulta “em novembro ou dezembro”. “Seriam precisos mais médicos dentistas, mais gabinetes, porque atendemos pessoas de todo o lado. Temos muita gente do concelho de Vila Franca de Xira e de Benavente, por exemplo”.
O caminho ainda é longo “e voltando ao início da nossa conversa, talvez seja possível um dia chegarmos ao nível do Canadá como vimos pela experiência do paciente”, diz Andreia Rosa.
Tal como acontece noutros centros de saúde da região, Arruda não foge à regra quando falamos de “doentes com consulta marcada que não comunicam a avisar que vão faltar”. “É bastante desmoralizador”, confessam as duas profissionais. “Vejo que no privado isso acontece com mais dificuldade”, conclui a médica.
Ângelo Boga optou pelas consultas nesta unidade de saúde tendo em conta que antes teve uma má experiência num dentista local. Ângelo Boga começou a ser seguido nestas consultas no centro de saúde por um médico que já não se encontra mas continuou com a dentista Andreia Rosa e o balanço com ambos os profissionais não podia ser mais positivo.
A história de Ângelo, 69 anos, é um pouco diferente da da grande maioria da população com a sua idade. Emigrado no Canadá durante muitos anos teve sempre acesso a cuidados dentários de saúde públicos. “Lá as empresas são obrigadas a enviar os seus trabalhadores para essas consultas, de modo que tive sempre acesso a tratamento gratuito”. “Sou do tempo em que os jovens abriam nozes com os dentes, quando emigrei tinha os dentes todos escavacados, e foi lá que os arranjei”, recorda. Quando regressou ao país foi com espanto que percebeu que as consultas “custavam 50, 60 ou 70 euros”. Está de novo em Portugal desde há 15 anos, e acabou por descurar a saúde oral. Há 10 anos que não ia ao dentista, de modo que estas consultas acabam por significar o regresso às velhas e saudáveis rotinas. A médica Andreia Rosa afirma que este paciente já vinha com bons cuidados de higiene, “fruto da sua experiência no Canadá onde a realidade é completamente diferente”.
Para a médica que presta serviço nesta unidade de saúde, que conta com duas dentistas nesta área, esta tem sido uma experiência que difere um pouco daquilo a que estava acostumada no setor privado – “Temos contacto com todo o tipo de doentes – polimedicados, com condições financeiras mais baixas, com menos instrução e menos motivação para a higiene oral”. Contudo esta médica que dá consultas desde março deste ano no local refere que “acaba por ser importante quando vemos que em parte os doentes vão tentando ultrapassar velhos hábitos e passam a dar mais valor à higiene oral”. “Tem sido bastante enriquecedor!”. Pela primeira vez tem-se deparado com casos de pessoas “já com uma certa idade que nunca foram ao médico dentista, que ficaram sem dentes ao longo do ano e que contam que foram os próprios a arrancarem os próprios dentes ou o que restava deles, melhor dizendo”.
“Ao longo dos tratamentos vamos tentando moldar as pessoas no sentido de fazerem mais por elas mesmas neste campo, e lá vão aceitando que tem mesmo de ser assim”, refere. “O desafio é muito grande quando queremos chegar a essas pessoas que nunca trataram dos dentes. Ao fim de algumas consultas lá nos vão dizendo que já mudaram a escova ou que já escovam os dentes durante mais tempo”, acrescenta a assistente dentária Joana Roque.
Há quem também chegue a estas consultas a pensar que no fim da extração tem direito a uma prótese quando não é caso por enquanto, “mas também há quem ache que depois de ter vivido uma vida inteira quase sem dentes entenda que já não vale a pena depois da extração do que ainda resta, adquirir uma prótese”, diz Andreia Rosa, que confessa: “Às vezes também é preciso fazermos um pouco de psicólogos”.
Face à procura que as consultas têm suscitado, Andreia Rosa conta que segue atualmente 256 utentes. Quem se inscrever por estes dias no centro de saúde apenas conseguirá a primeira consulta “em novembro ou dezembro”. “Seriam precisos mais médicos dentistas, mais gabinetes, porque atendemos pessoas de todo o lado. Temos muita gente do concelho de Vila Franca de Xira e de Benavente, por exemplo”.
O caminho ainda é longo “e voltando ao início da nossa conversa, talvez seja possível um dia chegarmos ao nível do Canadá como vimos pela experiência do paciente”, diz Andreia Rosa.
Tal como acontece noutros centros de saúde da região, Arruda não foge à regra quando falamos de “doentes com consulta marcada que não comunicam a avisar que vão faltar”. “É bastante desmoralizador”, confessam as duas profissionais. “Vejo que no privado isso acontece com mais dificuldade”, conclui a médica.