(C/Vídeo) Entrevista Nuno Faria, diretor do EJAF
“Não há uma fórmula mágica para continuarmos no topo dos rankings”
SA/MAR
05-10-2018 às 22:51
No início do ano letivo, o diretor do Externato João Alberto Faria, Nuno Faria, dá a conhecer algumas das novidades que a escola pretende implantar em 2018/2019, do desafio de continuar na senda dos bons resultados escolares a nível nacional, e quais as suas conceções sobre as grandes questões no setor da Educação numa reflexão sobre o externato enquanto motor do desenvolvimento do concelho
Chafariz de Arruda – Estamos no início do ano letivo, gostaria de lhe perguntar como é que está a ser o arranque do primeiro período de aulas, quanto a questões como a colocação de professores e funcionários no externato. Se há lacunas ou não?
Nuno Faria (NF) – Está a começar bem. Houve alguns desafios que conseguimos ultrapassar. Duas semanas decorridas desde o início das aulas é com muita satisfação que enquanto diretor da escola posso passar nos corredores e verificar que os alunos estão todos nas salas de aula a aprender. Não há lacunas quanto ao número de professores nem de funcionários. Temos tudo o que é necessário para começar o ano letivo.
Contudo este ano letivo fica marcado desde já pela entrada em funcionamento da plataforma para aquisição de manuais escolares. Sei que aqui também foi quase até à última para se resolver esta questão. Sendo que houve alguns receios, correto?
Sim houve porque participámos nas diversas reuniões com o ministério da Educação para sabermos como seria a triagem e a organização à volta dessa tal plataforma informática chamada Mega. Disponibilizámo-nos para o que fosse necessário, mas quando o ano letivo se começou a aproximar, percebemos que a nossa escola por ter contrato associação tinha ficado de fora dos vouchers para aquisição de manuais para o 5º e 6º anos. Manifestámos a nossa preocupação junto do ministério da Educação sobre o assunto. Felizmente na passada semana ficou tudo resolvido. A escola decidiu imprimir todos os vouchers. No nosso caso estamos a falar de 500 vouchers para 500 alunos.
Esta medida do Governo é importante no seu entender? Nota que de facto os encarregados de educação têm cada vez mais dificuldade em adquirir os manuais escolares?
Naturalmente que sim. Tudo o que vá no sentido de tornar mais acessível a Educação às pessoas com mais dificuldades é de louvar.
É adepto do livro usado? É uma boa medida ou acaba por não ser prático?
A experiência diz-me que na prática isso pode não funcionar porque muitos pais entendem que os filhos têm de trabalhar nos livros, escrever neles, e de facto muitos têm essas características de se preencher com possibilidade de se fazerem apontamentos na margem. Por outro lado, se o livro usado servir para o percurso escolar em relação a quem tem capacidade para comprar os livros, e ter igualmente sucesso é uma boa opção. Na prática tenho algumas dúvidas quanto ao livro usado mas não rejeito. Sei que a Câmara tem uma iniciativa nesse sentido.
A nível do novo ano escolar, a oferta letiva apresenta algumas novidades?
Desde cedo que abraçámos a causa da flexibilidade curricular. Este é um desafio importante pois vai permitir à escola dar a formação adequada aos alunos. Temos a excelência por lema. Fazemos questão que os nossos alunos saiam daqui bem preparados. Temos um grande foco nos conteúdos e nos temas, sem descurar os alunos com dificuldades educativas. Então pensámos em novidades como a introdução do inglês nas aulas de Economia já a partir do 10º ano. Vemos que a realidade das universidades na área da Economia e Gestão faz-se em inglês. Temos um professor nativo que vem dar alguns módulos em inglês. O paradigma do ensino superior está a mudar. Exemplo disso é a Universidade Nova na Praia da Torre em Carcavelos, onde assistimos ao repensar daquela estrutura, com outra abertura ao mundo. Tentamos ir ao encontro do perfil do aluno do Secundário que essas universidades querem. Trabalhamos essas competências para que quando lá cheguem sejam os melhores alunos. Vamos também introduzir a componente das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no 5º ano na disciplina de Inglês, Matemática, e Português. Estamos a trabalhar no sentido de termos um tablet ou i-pad por aluno. Ainda não foi possível. O meu desejo é que se tornem uma ferramenta normal de trabalho. Eles até sabem mexer melhor nessas tecnologias do que nós. Outra novidade é tentar uma transversalidade no tratamento dos mesmos conteúdos nas várias disciplinas já a partir do sétimo ano.
Os alunos, normalmente, aderem e sentem entusiasmo perante estas novidades…
Sempre. Subestimar a capacidade de aprender de uma criança é um erro brutal. Estão sempre ansiosos por desafios.
Chafariz de Arruda – Estamos no início do ano letivo, gostaria de lhe perguntar como é que está a ser o arranque do primeiro período de aulas, quanto a questões como a colocação de professores e funcionários no externato. Se há lacunas ou não?
Nuno Faria (NF) – Está a começar bem. Houve alguns desafios que conseguimos ultrapassar. Duas semanas decorridas desde o início das aulas é com muita satisfação que enquanto diretor da escola posso passar nos corredores e verificar que os alunos estão todos nas salas de aula a aprender. Não há lacunas quanto ao número de professores nem de funcionários. Temos tudo o que é necessário para começar o ano letivo.
Contudo este ano letivo fica marcado desde já pela entrada em funcionamento da plataforma para aquisição de manuais escolares. Sei que aqui também foi quase até à última para se resolver esta questão. Sendo que houve alguns receios, correto?
Sim houve porque participámos nas diversas reuniões com o ministério da Educação para sabermos como seria a triagem e a organização à volta dessa tal plataforma informática chamada Mega. Disponibilizámo-nos para o que fosse necessário, mas quando o ano letivo se começou a aproximar, percebemos que a nossa escola por ter contrato associação tinha ficado de fora dos vouchers para aquisição de manuais para o 5º e 6º anos. Manifestámos a nossa preocupação junto do ministério da Educação sobre o assunto. Felizmente na passada semana ficou tudo resolvido. A escola decidiu imprimir todos os vouchers. No nosso caso estamos a falar de 500 vouchers para 500 alunos.
Esta medida do Governo é importante no seu entender? Nota que de facto os encarregados de educação têm cada vez mais dificuldade em adquirir os manuais escolares?
Naturalmente que sim. Tudo o que vá no sentido de tornar mais acessível a Educação às pessoas com mais dificuldades é de louvar.
É adepto do livro usado? É uma boa medida ou acaba por não ser prático?
A experiência diz-me que na prática isso pode não funcionar porque muitos pais entendem que os filhos têm de trabalhar nos livros, escrever neles, e de facto muitos têm essas características de se preencher com possibilidade de se fazerem apontamentos na margem. Por outro lado, se o livro usado servir para o percurso escolar em relação a quem tem capacidade para comprar os livros, e ter igualmente sucesso é uma boa opção. Na prática tenho algumas dúvidas quanto ao livro usado mas não rejeito. Sei que a Câmara tem uma iniciativa nesse sentido.
A nível do novo ano escolar, a oferta letiva apresenta algumas novidades?
Desde cedo que abraçámos a causa da flexibilidade curricular. Este é um desafio importante pois vai permitir à escola dar a formação adequada aos alunos. Temos a excelência por lema. Fazemos questão que os nossos alunos saiam daqui bem preparados. Temos um grande foco nos conteúdos e nos temas, sem descurar os alunos com dificuldades educativas. Então pensámos em novidades como a introdução do inglês nas aulas de Economia já a partir do 10º ano. Vemos que a realidade das universidades na área da Economia e Gestão faz-se em inglês. Temos um professor nativo que vem dar alguns módulos em inglês. O paradigma do ensino superior está a mudar. Exemplo disso é a Universidade Nova na Praia da Torre em Carcavelos, onde assistimos ao repensar daquela estrutura, com outra abertura ao mundo. Tentamos ir ao encontro do perfil do aluno do Secundário que essas universidades querem. Trabalhamos essas competências para que quando lá cheguem sejam os melhores alunos. Vamos também introduzir a componente das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no 5º ano na disciplina de Inglês, Matemática, e Português. Estamos a trabalhar no sentido de termos um tablet ou i-pad por aluno. Ainda não foi possível. O meu desejo é que se tornem uma ferramenta normal de trabalho. Eles até sabem mexer melhor nessas tecnologias do que nós. Outra novidade é tentar uma transversalidade no tratamento dos mesmos conteúdos nas várias disciplinas já a partir do sétimo ano.
Os alunos, normalmente, aderem e sentem entusiasmo perante estas novidades…
Sempre. Subestimar a capacidade de aprender de uma criança é um erro brutal. Estão sempre ansiosos por desafios.
Quando chega a altura dos rankings, todos esperam pelos bons resultados de Arruda dos Vinhos. (A escola tem alcançado das melhores posições a nível nacional). É difícil manter a fasquia tão elevada, principalmente num meio rural? Não estamos num grande centro urbano.
Esse é o principal desafio no resultado dos rankings. Damos muita importância ao conhecimento em si e às avaliações externas. Considero que é uma boa forma de se aferir os resultados alcançados dentro das escolas. Mas o trabalho de uma escola não se esgota nos rankings, nem nas classificações dos exames, mas na capacidade de passarmos conhecimento aos alunos. Mas é reconfortante percebermos que num meio rural estamos a lutar taco a taco com escolas de meios urbanos, com maior capacidade económica do que Arruda. É notável percebermos que isto se faz com os filhos de todos os habitantes de Arruda, independentemente da sua condição económica.
O sucesso do externato é uma realidade há muitos anos. Perguntam-lhe qual a fórmula mágica, por assim dizer, principalmente os seus colegas diretores de outras escolas?
Perguntam, mas não há mezinhas ou fórmulas mágicas. Simplesmente trabalhamos de uma forma muito séria e damos importância ao aluno. Entendemos a escola como a plataforma que permitirá ao aluno poder aspirar a algo melhor a nível pessoal, profissional e social. Temos uma equipa muito motivada e alinhada com aquilo que são os princípios de excelência da escola. Para isso temos uma liderança forte e um corpo docente estável. Não quero cair no facilitismo de dizer que trabalhamos melhor do que as escolas públicas. Porque as há excelentes, simplesmente podem não conseguir ter um corpo docente estável, por exemplo. Há excelentes diretores que não conseguem ter uma liderança porque têm dificuldades em implementarem as suas ideias.
O facto de a Educação ser vista como aquela área onde há sempre muita turbulência, em conflito com o ministro da tutela, e com os professores sempre em greve, na sua opinião tem prejudicado o setor?
Infelizmente sim.
A culpa é um pouco de todos os atores?
Sobretudo de quem extrema as suas posições. Os que proferem as suas exaltações são os que mais depressa se arrependem do que disseram, quer da parte do ministério, quer dos professores. Lamento bastante que a classe dos professores, hoje, não esteja tão bem vista como deveria estar. Porque este é um trabalho extraordinário. É histórica a influência que os sindicatos têm no setor, em que não ajudam a que os conflitos se resolvam de outra maneira, porque se extremam as posições. Por outro lado, cada ministro da Educação que chega quer alterar tudo para deixar a sua marca, e isso por vezes também não ajuda. É preciso ter a noção de que as coisas na Educação demoram anos a produzir resultados. O setor da Educação deveria ser aquele de que não se ouve falar. Um setor calmo, no fundo.
Nesta questão do descongelamento de carreiras, acha que o consenso podia ser mais fácil?
A razão está sempre algures no meio. Atendendo às condições do país e à crise que atravessou, eventualmente poderia haver alguma cedência por parte dos professores. Mas da parte do Governo também era importante haver o reconhecimento daquilo que é o trabalho dos professores e das suas pretensões, e sobretudo não extremar posições.
Quando chega a altura dos rankings, todos esperam pelos bons resultados de Arruda dos Vinhos. (A escola tem alcançado das melhores posições a nível nacional). É difícil manter a fasquia tão elevada, principalmente num meio rural? Não estamos num grande centro urbano.
Esse é o principal desafio no resultado dos rankings. Damos muita importância ao conhecimento em si e às avaliações externas. Considero que é uma boa forma de se aferir os resultados alcançados dentro das escolas. Mas o trabalho de uma escola não se esgota nos rankings, nem nas classificações dos exames, mas na capacidade de passarmos conhecimento aos alunos. Mas é reconfortante percebermos que num meio rural estamos a lutar taco a taco com escolas de meios urbanos, com maior capacidade económica do que Arruda. É notável percebermos que isto se faz com os filhos de todos os habitantes de Arruda, independentemente da sua condição económica.
O sucesso do externato é uma realidade há muitos anos. Perguntam-lhe qual a fórmula mágica, por assim dizer, principalmente os seus colegas diretores de outras escolas?
Perguntam, mas não há mezinhas ou fórmulas mágicas. Simplesmente trabalhamos de uma forma muito séria e damos importância ao aluno. Entendemos a escola como a plataforma que permitirá ao aluno poder aspirar a algo melhor a nível pessoal, profissional e social. Temos uma equipa muito motivada e alinhada com aquilo que são os princípios de excelência da escola. Para isso temos uma liderança forte e um corpo docente estável. Não quero cair no facilitismo de dizer que trabalhamos melhor do que as escolas públicas. Porque as há excelentes, simplesmente podem não conseguir ter um corpo docente estável, por exemplo. Há excelentes diretores que não conseguem ter uma liderança porque têm dificuldades em implementarem as suas ideias.
O facto de a Educação ser vista como aquela área onde há sempre muita turbulência, em conflito com o ministro da tutela, e com os professores sempre em greve, na sua opinião tem prejudicado o setor?
Infelizmente sim.
A culpa é um pouco de todos os atores?
Sobretudo de quem extrema as suas posições. Os que proferem as suas exaltações são os que mais depressa se arrependem do que disseram, quer da parte do ministério, quer dos professores. Lamento bastante que a classe dos professores, hoje, não esteja tão bem vista como deveria estar. Porque este é um trabalho extraordinário. É histórica a influência que os sindicatos têm no setor, em que não ajudam a que os conflitos se resolvam de outra maneira, porque se extremam as posições. Por outro lado, cada ministro da Educação que chega quer alterar tudo para deixar a sua marca, e isso por vezes também não ajuda. É preciso ter a noção de que as coisas na Educação demoram anos a produzir resultados. O setor da Educação deveria ser aquele de que não se ouve falar. Um setor calmo, no fundo.
Nesta questão do descongelamento de carreiras, acha que o consenso podia ser mais fácil?
A razão está sempre algures no meio. Atendendo às condições do país e à crise que atravessou, eventualmente poderia haver alguma cedência por parte dos professores. Mas da parte do Governo também era importante haver o reconhecimento daquilo que é o trabalho dos professores e das suas pretensões, e sobretudo não extremar posições.
Este Governo teve uma postura a contragosto daquilo que são as escolas com contrato associação, com o anúncio de alguns cortes, como é que foi essa gestão por parte do externato?
Foi difícil, e vivemos esses momentos com muita apreensão, até perceber o que se pretendia. À parte das polémicas entre público e privado, de facto a sobreposição de oferta tinha de ser resolvida (existência de escolas do ensino público e privado no mesmo território concelhio). Se foi ou não bem feita, o julgamento poderá ser feito mais tarde. No caso de Arruda (onde a oferta concelhia se resume ao externato), e pela sua especificidade conseguimos fazer ver à tutela que não fazia sentido reduzir o número de turmas porque não havia alternativa.
Foram negociações difíceis?
Foram.
Notou porventura que o Governo PS também estava a ser pressionado pelos parceiros de esquerda, sempre muito veementes nesta matéria.
Não sou político mas é natural que assim fosse. As negociações foram difíceis. Com a ajuda do presidente do município, André Rijo, conseguimos dar a conhecer a nossa preocupação que foi aceite pela tutela. Infelizmente, neste ano letivo, assistimos por parte do ministério da Educação ao corte de uma turma do quinto e outra do sétimo ano. Foi muito difícil de acomodar, até porque vai afetar alunos com necessidades educativas especiais e fizemos ver isso à secretária de Estado da Educação. Foi um desafio grande. Tivemos de ajustar o número de professores em que tivemos de dispensar dez docentes.
Uma das novidades neste ano letivo é o facto de Educação Física passar a contar para a nota. Como é que o externato se está a preparar neste domínio?
Apesar de não ser uma disciplina com um cariz mais científico não deixa de ser importante. Mas é importante que a escola tenha uma resposta a dar a esses alunos que não têm uma capacidade natural para esta disciplina, mas que são alunos extraordinários nas restantes. Em tempos demos a oportunidade a esses alunos que queriam melhorar a sua nota a Educação Física, de fazerem um trabalho teórico sobre a matéria, e com isso melhor concorrerem para a nota final. Valorizo a Educação Física mas é importante percebermos que há aqui a nota final de candidatura ao ensino superior, e percebermos que as coisas têm de ser equilibradas de uma maneira ou de outra.
Muito falada tem sido ainda a criação dos mega-agrupamentos, contestada por muitas escolas. Qual é a sua visão deste tema?
Arruda tem uma vantagem competitiva enorme em termos de Educação, e desde logo temos esta visão de trabalharmos em conjunto tanto eu, como o senhor presidente da Câmara, como o meu colega do primeiro ciclo e o meu colega da Gustave Eiffel. Por isso somos um exemplo também aí, porque apesar de estarmos a falar em graus de ensino diferentes, e termos interesses diferenciados, fomos capazes de nos sentar à mesma mesa, e concertar uma estratégia em prol dos alunos. Temos um projeto educativo comum que se quiser já trabalha nessa lógica do mega-agrupamento. É importante não nos fecharmos nas nossas quintas. Já temos o hábito de os nossos professores falarem com os do primeiro ciclo para percebermos o que é preciso fazer. Se é isto um mega-agrupamento então que seja bem-vindo, se é para criar uma estrutura gigantesca que deixe o professor paralisado então é melhor deixar como está.
O Governo divulgou um conjunto de 50 medidas para o ano letivo de 2018/2019, o que lhe parece o documento, onde entre outros conceitos figuram o de “autonomia e flexibilidade curricular”; ou medidas como a “introdução das provas de aferição no 2º; 5º; e 8º anos”.
É sempre importante que a tutela estabeleça as linhas orientadoras para o setor. Acho que a diferença estará sempre na forma como as escolas as incorporarão. São interessantes, com algumas concordarei mais do que outras.
Muito se tem falado do ensino não formal, como é o caso de uma escola na freguesia de Cardosas ou até da Escola da Ponte em Santo Tirso no Norte, qual é a sua opinião sobre esta abordagem?
São abordagens interessantes ao ensino. Se por um lado, a escola deve atualizar-se, por outro tem de existir um bloco central de aprendizagem daquilo que é o saber elementar ao nível das línguas, da Ciência, da Matemática. Esta é a base. Em cima disto podemos construir outras estratégias e abordagens, desde que se respeite o núcleo central de conhecimentos. Tudo o resto pode ser importante ou interessante. Entrar em projetos que fujam muito desta ideia, considero arriscado.
Nota que os bons resultados do externato, e o facto de ser considerado uma escola de excelência também tem influenciado o desenvolvimento do território, do concelho?
Sou suspeito para falar mas sem falsas modéstias, julgo que sim. Penso que tem tido um papel fundamental na atração de mais pessoas, jovens casais, até, para Arruda dos Vinho. Os censos assim o dizem. Dados da Pordata de 2014, referem que o concelho de Arruda foi o único que cresceu em número da população na região Oeste. Não consigo dissociar isto daquilo que de facto é a notoriedade da escola, bem como o restante ensino em Arruda. Alguém uma vez me disse que nos anos 50/60, a adega cooperativa foi um dos grandes motores de desenvolvimento de Arruda, depois nas décadas de 70 e 80, a fábrica da Fresca que empregou muita gente, e mais recentemente desde os anos 90, há quem diga que o externato assumiu esse protagonismo. Mas vejo isto de uma forma muito humilde, de uma escola que está há 40 anos a fazer a sua missão em Arruda.
Como é que é também para si continuar a obra do seu pai, João Alberto Faria?
É um grande desafio. Ao fim de 15 anos, considero que é um desafio ganho, não apenas por mérito meu pessoal, mas porque conseguimos juntar uma equipa de profissionais excelente. Nada se consegue sozinho. Vestem a camisola todos os dias em prol da educação destes miúdos. E digo isto com muito gosto, não só queremos saber junto das universidades que tipo de exigências têm quanto aos alunos, como estamos a dedicar 150 horas de aulas extra por semana para os alunos com mais dificuldades. São 600 horas por mês. Se necessário adaptamos o currículo para que cheguem ao fim da escolaridade obrigatória connosco.
Foi difícil, e vivemos esses momentos com muita apreensão, até perceber o que se pretendia. À parte das polémicas entre público e privado, de facto a sobreposição de oferta tinha de ser resolvida (existência de escolas do ensino público e privado no mesmo território concelhio). Se foi ou não bem feita, o julgamento poderá ser feito mais tarde. No caso de Arruda (onde a oferta concelhia se resume ao externato), e pela sua especificidade conseguimos fazer ver à tutela que não fazia sentido reduzir o número de turmas porque não havia alternativa.
Foram negociações difíceis?
Foram.
Notou porventura que o Governo PS também estava a ser pressionado pelos parceiros de esquerda, sempre muito veementes nesta matéria.
Não sou político mas é natural que assim fosse. As negociações foram difíceis. Com a ajuda do presidente do município, André Rijo, conseguimos dar a conhecer a nossa preocupação que foi aceite pela tutela. Infelizmente, neste ano letivo, assistimos por parte do ministério da Educação ao corte de uma turma do quinto e outra do sétimo ano. Foi muito difícil de acomodar, até porque vai afetar alunos com necessidades educativas especiais e fizemos ver isso à secretária de Estado da Educação. Foi um desafio grande. Tivemos de ajustar o número de professores em que tivemos de dispensar dez docentes.
Uma das novidades neste ano letivo é o facto de Educação Física passar a contar para a nota. Como é que o externato se está a preparar neste domínio?
Apesar de não ser uma disciplina com um cariz mais científico não deixa de ser importante. Mas é importante que a escola tenha uma resposta a dar a esses alunos que não têm uma capacidade natural para esta disciplina, mas que são alunos extraordinários nas restantes. Em tempos demos a oportunidade a esses alunos que queriam melhorar a sua nota a Educação Física, de fazerem um trabalho teórico sobre a matéria, e com isso melhor concorrerem para a nota final. Valorizo a Educação Física mas é importante percebermos que há aqui a nota final de candidatura ao ensino superior, e percebermos que as coisas têm de ser equilibradas de uma maneira ou de outra.
Muito falada tem sido ainda a criação dos mega-agrupamentos, contestada por muitas escolas. Qual é a sua visão deste tema?
Arruda tem uma vantagem competitiva enorme em termos de Educação, e desde logo temos esta visão de trabalharmos em conjunto tanto eu, como o senhor presidente da Câmara, como o meu colega do primeiro ciclo e o meu colega da Gustave Eiffel. Por isso somos um exemplo também aí, porque apesar de estarmos a falar em graus de ensino diferentes, e termos interesses diferenciados, fomos capazes de nos sentar à mesma mesa, e concertar uma estratégia em prol dos alunos. Temos um projeto educativo comum que se quiser já trabalha nessa lógica do mega-agrupamento. É importante não nos fecharmos nas nossas quintas. Já temos o hábito de os nossos professores falarem com os do primeiro ciclo para percebermos o que é preciso fazer. Se é isto um mega-agrupamento então que seja bem-vindo, se é para criar uma estrutura gigantesca que deixe o professor paralisado então é melhor deixar como está.
O Governo divulgou um conjunto de 50 medidas para o ano letivo de 2018/2019, o que lhe parece o documento, onde entre outros conceitos figuram o de “autonomia e flexibilidade curricular”; ou medidas como a “introdução das provas de aferição no 2º; 5º; e 8º anos”.
É sempre importante que a tutela estabeleça as linhas orientadoras para o setor. Acho que a diferença estará sempre na forma como as escolas as incorporarão. São interessantes, com algumas concordarei mais do que outras.
Muito se tem falado do ensino não formal, como é o caso de uma escola na freguesia de Cardosas ou até da Escola da Ponte em Santo Tirso no Norte, qual é a sua opinião sobre esta abordagem?
São abordagens interessantes ao ensino. Se por um lado, a escola deve atualizar-se, por outro tem de existir um bloco central de aprendizagem daquilo que é o saber elementar ao nível das línguas, da Ciência, da Matemática. Esta é a base. Em cima disto podemos construir outras estratégias e abordagens, desde que se respeite o núcleo central de conhecimentos. Tudo o resto pode ser importante ou interessante. Entrar em projetos que fujam muito desta ideia, considero arriscado.
Nota que os bons resultados do externato, e o facto de ser considerado uma escola de excelência também tem influenciado o desenvolvimento do território, do concelho?
Sou suspeito para falar mas sem falsas modéstias, julgo que sim. Penso que tem tido um papel fundamental na atração de mais pessoas, jovens casais, até, para Arruda dos Vinho. Os censos assim o dizem. Dados da Pordata de 2014, referem que o concelho de Arruda foi o único que cresceu em número da população na região Oeste. Não consigo dissociar isto daquilo que de facto é a notoriedade da escola, bem como o restante ensino em Arruda. Alguém uma vez me disse que nos anos 50/60, a adega cooperativa foi um dos grandes motores de desenvolvimento de Arruda, depois nas décadas de 70 e 80, a fábrica da Fresca que empregou muita gente, e mais recentemente desde os anos 90, há quem diga que o externato assumiu esse protagonismo. Mas vejo isto de uma forma muito humilde, de uma escola que está há 40 anos a fazer a sua missão em Arruda.
Como é que é também para si continuar a obra do seu pai, João Alberto Faria?
É um grande desafio. Ao fim de 15 anos, considero que é um desafio ganho, não apenas por mérito meu pessoal, mas porque conseguimos juntar uma equipa de profissionais excelente. Nada se consegue sozinho. Vestem a camisola todos os dias em prol da educação destes miúdos. E digo isto com muito gosto, não só queremos saber junto das universidades que tipo de exigências têm quanto aos alunos, como estamos a dedicar 150 horas de aulas extra por semana para os alunos com mais dificuldades. São 600 horas por mês. Se necessário adaptamos o currículo para que cheguem ao fim da escolaridade obrigatória connosco.