Dona Laura e as suas mais de 1000 bonecas
SA
04-05-2019 às 11:31
Em pequenina lembra-se que queria muito ter uma boneca mas não era fácil para os pais, de origens muito humildes. Cobiçava a boneca de uma criança vizinha que não queria emprestar e foi o irmão que de uma pedra fez uns olhos e uma boca, arranjou uns tecidos e deu há muitos, muitos anos a Laura Coutinho, de 85 anos e “meio” como gosta de frisar, uma boneca de pedra, se assim podemos dizer, que encantou a então menina, até que a sua irmã mais nova decidiu mandar a “boneca-pedra” para dentro de um poço e foi o caos para Laura. Ainda teve um boneco de papelão, o Zezinho, que era uma “loucura” mas que um dia foi espatifado pela menina Maria Rosa, uma amiga de infância. Passaram os anos, e já perto da terceira idade, dona Laura, como lhe chamam os vizinhos, entregou-se ao colecionismo de bonecas de todo o tipo: de plástico, de porcelana, de peluche. Nesta altura a sua casa, é praticamente ocupada por este mundo de fantasia que deixaria qualquer criança fascinada. Muitas das suas bonecas têm uma história para contar…
É que deste universo de mais de 1000 bonecas, escassas são as que comprou. Se bem que ainda guarde muitas das que foi dando ao longo dos anos a filhas e netas, um número considerável foi oferecido por arrudenses que sabendo desta paixão a vão presenteando, de vez em quando, com mais uma boneca. Há sempre espaço para mais uma Palmira, uma Aline, ou uma Ester, ou qualquer outro nome mais ou menos na moda. Porque todas as bonecas têm um papelinho com o nome escrito. Mas as que mais lhe dizem são também as que encontrou já prestes a irem para o caixote do lixo, abandonadas aqui e ali, como “indesejáveis”. Ou porque já não tinham um braço ou uma perna, ou simplesmente porque deixaram de ser a companhia preferida para brincar de uma qualquer criança. Laura Coutinho dá nova vida a essas bonecas, faz-lhes vestidinhos aos folhos, tem uma caixa só com braços e pernas quando tem de vestir o fato de cirurgiã de bonecas, e não se esquece também da roupa interior, e dos cabelos devidamente lavados, e desenriçados. Depois ficam prontas para um lugar de destaque ao lado de outras “amigas” e “amigos” que no fundo fazem companhia a esta mulher – “Elas gostam de mim e eu delas”.
É que deste universo de mais de 1000 bonecas, escassas são as que comprou. Se bem que ainda guarde muitas das que foi dando ao longo dos anos a filhas e netas, um número considerável foi oferecido por arrudenses que sabendo desta paixão a vão presenteando, de vez em quando, com mais uma boneca. Há sempre espaço para mais uma Palmira, uma Aline, ou uma Ester, ou qualquer outro nome mais ou menos na moda. Porque todas as bonecas têm um papelinho com o nome escrito. Mas as que mais lhe dizem são também as que encontrou já prestes a irem para o caixote do lixo, abandonadas aqui e ali, como “indesejáveis”. Ou porque já não tinham um braço ou uma perna, ou simplesmente porque deixaram de ser a companhia preferida para brincar de uma qualquer criança. Laura Coutinho dá nova vida a essas bonecas, faz-lhes vestidinhos aos folhos, tem uma caixa só com braços e pernas quando tem de vestir o fato de cirurgiã de bonecas, e não se esquece também da roupa interior, e dos cabelos devidamente lavados, e desenriçados. Depois ficam prontas para um lugar de destaque ao lado de outras “amigas” e “amigos” que no fundo fazem companhia a esta mulher – “Elas gostam de mim e eu delas”.
Encontrou a “Chica das Favas” em Vila Franca de Xira junto a um caixote do lixo, e é de “celuloide”, um material usado antigamente para fabricar bonecas, mas também temos a “Marilinha” que veio da Alemanha deixada ao cuidado de Laura por uma emigrante. Depois apresenta-nos o Francisco, um nenuco sorridente, “mas que veio para aqui tão sujo, mas é a minha alegria porque está sempre a rir-se para mim”. Laura já rumou a Queluz de Baixo com a sua bonecada debaixo do braço onde realizou uma exposição. Muitos queriam comprar-lhe bonecos, mas não acedeu. “Como posso vender algo que me foi dado?”. A Teodora Rosa será uma das mais velhas bonecas que tem, vem da década de 60.
Fragmentos da infância de muitos arrudenses estão na casa desta mulher. Alguns ainda se lembrarão desses bonecos que aqui ficamos a conhecer. “Por isso não posso vender, algumas dessas pessoas hoje até já são avós”. Esta colecionadora tem um lugar especial nas memórias das gentes de Arruda, que se lembram de si e do seu gosto tão especial.
Dá-nos a conhecer a Timótea, foi deixada à sua porta mas não sabe por quem. E isso já aconteceu mais do que uma vez. Foi o caso também de uma boneca tipo duende. “Duenda”, como lhe chama a dona Laura. Depois conhecemos um casal de trigémeos a quem pôs os nomes de Valéria, Policarpo e Jesuína, “porque na vida real também há quem tenha três filhos”. Conhecemos a Esperança, uma boneca dada por um avô cuja neta esteve pestes a ir para adoção, “porque a filha nunca teve cabeça”. “Chorou baba e ranho quando aqui esteve. Fiz-lhe o fatinho, hoje a menina está na escola, segundo sei”. A Aida foi dada por outra arrudense quando a mãe morreu, a boneca era sua. Tem também um boneco a quem deu o nome do pai, Salvador Joaquim, “que chegou aqui muito sujo”. Há bonecas de que gosta menos, as que se percebe que “são vaidosas”. “A Simone vê-se logo que é assim. Não gosto dela. É orgulhosa, mas outras são muito simpáticas porque estão sempre a rir para mim”. “Vive-se assim com isto (uma casa repleta de bonecas), mas vive-se muito bem”.
Laura Coutinho é também uma mulher que gosta de escrever peças de teatro e poesia, e ainda continua a fazer o gosto, mas essa é uma área que com certeza ficará para uma outra conversa com o nosso jornal. Para rematar o nosso encontro terminamos com a história da coelho peluche Lili, que um dia servia de bola a uns rapazes que numa noite das festas se entretinham a dar-lhe pontapés, e a Laura partiu-se-lhe o coração. Foi há quatro anos esta história. Veio para casa, mas de madrugada saiu e foi à procura do boneco nas imediações. “Estava tão comovida, e consegui encontrar a Lili, um tesouro. Ela ainda hoje me agradece. Foi lavada e ficou como nova”.
Fragmentos da infância de muitos arrudenses estão na casa desta mulher. Alguns ainda se lembrarão desses bonecos que aqui ficamos a conhecer. “Por isso não posso vender, algumas dessas pessoas hoje até já são avós”. Esta colecionadora tem um lugar especial nas memórias das gentes de Arruda, que se lembram de si e do seu gosto tão especial.
Dá-nos a conhecer a Timótea, foi deixada à sua porta mas não sabe por quem. E isso já aconteceu mais do que uma vez. Foi o caso também de uma boneca tipo duende. “Duenda”, como lhe chama a dona Laura. Depois conhecemos um casal de trigémeos a quem pôs os nomes de Valéria, Policarpo e Jesuína, “porque na vida real também há quem tenha três filhos”. Conhecemos a Esperança, uma boneca dada por um avô cuja neta esteve pestes a ir para adoção, “porque a filha nunca teve cabeça”. “Chorou baba e ranho quando aqui esteve. Fiz-lhe o fatinho, hoje a menina está na escola, segundo sei”. A Aida foi dada por outra arrudense quando a mãe morreu, a boneca era sua. Tem também um boneco a quem deu o nome do pai, Salvador Joaquim, “que chegou aqui muito sujo”. Há bonecas de que gosta menos, as que se percebe que “são vaidosas”. “A Simone vê-se logo que é assim. Não gosto dela. É orgulhosa, mas outras são muito simpáticas porque estão sempre a rir para mim”. “Vive-se assim com isto (uma casa repleta de bonecas), mas vive-se muito bem”.
Laura Coutinho é também uma mulher que gosta de escrever peças de teatro e poesia, e ainda continua a fazer o gosto, mas essa é uma área que com certeza ficará para uma outra conversa com o nosso jornal. Para rematar o nosso encontro terminamos com a história da coelho peluche Lili, que um dia servia de bola a uns rapazes que numa noite das festas se entretinham a dar-lhe pontapés, e a Laura partiu-se-lhe o coração. Foi há quatro anos esta história. Veio para casa, mas de madrugada saiu e foi à procura do boneco nas imediações. “Estava tão comovida, e consegui encontrar a Lili, um tesouro. Ela ainda hoje me agradece. Foi lavada e ficou como nova”.