Opinião Casimiro Ramos: Sol na Eira, Chuva no Nabal
15-08-2018 às 13:01
Muitas vezes gostaríamos de ter o melhor de dois mundos. Mas, as circunstâncias da vida e a organização da sociedade, quase nunca permite que isso aconteça.
Vem o velho ditado a propósito da recente alteração das tarifas de passes sociais.
Como é do conhecimento público, desde o dia 1 de abril, os passes sociais nos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) terão um custo de 40 euros mensais e permitem a utilização de todos os transportes dentro da AML.
Também é sabido que os municípios mais próximos da AML a norte de Lisboa, entenda-se região Oeste conseguiram através da Comunidade Intermunicipal (CIM Oeste) um protocolo com o governo que vai permitir uma redução substancial no atual custo dos passes sociais (30%). Mas, mesmo assim, no caso de Arruda dos Vinhos, ficará o novo passe para Lisboa (77,14€), em quase o dobro do valor do passe da AML.
Se fizermos as contas, para obter uma maior poupança numa deslocação para trabalhar em Lisboa, um Arrudense poderá obter o passe para Alverca (que ficará em 43,75€) e depois o passe da AML de 40€ para se deslocar até Lisboa e dentro da cidade, mas claro está passando a manhã e a tarde a mudar de meios de transporte.
Nestas situações como em outras que só nos lembramos quando precisamos, levanta-se a questão: por que razão o concelho de Arruda dos Vinhos, com freguesias que estão bem mais perto da capital do que Freguesias de Vila Franca de Xira ou de Sesimbra, não pertence à AML?
É uma história que vem de longe. Há anos atrás alguns autarcas de Arruda, antevendo que a dinâmica da AML permitiria na altura e no futuro a obtenção de vantagens para os Arrudenses, defendiam, numa primeira fase, que o concelho integrasse a AML como observador. Essa era uma estratégia, para numa segunda fase, poder ser membro efetivo face à crescente e história vivência da população com os concelhos a sul.
No entanto, essa ideia não ganhou a força suficiente para ir em frente porque também havia quem argumentasse que tal opção acarretaria uma desvantagem significativa relativamente à arrecadação de fundos comunitários (o que seria um facto), uma vez que Arruda sairia da região Oeste (pertencente à zona centro) que é mais majorada para esse efeito do que a AML. Acresciam ainda a essa argumentação, as razões culturais e históricas que Arruda, pela sua ruralidade (de que sou defensor), deveria manter a sua ligação administrativa à região Oeste.
Embora entendendo esta linha de argumentação considero que a mesma não está alinhada com uma visão para o futuro.
É que, uma coisa pode não ter, necessariamente, a ver com a outra. Isto é, na verdade a organização administrativa do Oeste, pode ter servido para manter pequenos poderes ou fazer dar a entender que a mesma tem poder. Mas em termos práticos e visíveis para as populações as vantagens não são bem percetíveis. Por um lado, os fundos comunitários a repartir têm sido cada vez menos e a sua repartição, no mínimo questionável, tem sido para fins que já não correspondem às necessidades de um concelho como o de Arruda e, ainda faltaria fazer as contas se a migalha do bolo com chantilly da AML, não seria maior do que a fatia de pão que se recebe do Oeste.
Quanto à identidade cultural do Oeste podemos questionar: Para além da rota da vinha e do vinho (que não funciona) e da participação em Feiras de vinhos (que aliás se designam por vinhos da região de Lisboa) que faz o Oeste para uma coesão cultural e social ? há algum plano urbanístico, cultural ou Turístico para o Oeste de uma forma integrada ? Há uma feira ou evento que reúna a participação de todos os concelhos do Oeste ? há algum intercâmbio de atividades desportivas ou culturais entre os concelhos ? há algum fundo de emergência para acorrer a catástrofes naturais que aconteçam em algum concelho como sucedeu com as intempéries de 2009 e 2011 ou nos anos 80 ?
Oeste sim, se for por uma verdadeira região que lute pela sua identidade com ações concretas, que seja solidária e que reverta a riqueza criada em prol das populações. Assim valerá a pena lutar pela gestão de uma “região” administrativa.
Mas para simplesmente ser um palco de representações de regionalismos bacocos, então não, porque a realidade de Arruda é outra.
Nesse caso, como diz o velho ditado rural, talvez seja melhor optar por uma das colheitas do que ter das duas uma fraca produção.
Vem o velho ditado a propósito da recente alteração das tarifas de passes sociais.
Como é do conhecimento público, desde o dia 1 de abril, os passes sociais nos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) terão um custo de 40 euros mensais e permitem a utilização de todos os transportes dentro da AML.
Também é sabido que os municípios mais próximos da AML a norte de Lisboa, entenda-se região Oeste conseguiram através da Comunidade Intermunicipal (CIM Oeste) um protocolo com o governo que vai permitir uma redução substancial no atual custo dos passes sociais (30%). Mas, mesmo assim, no caso de Arruda dos Vinhos, ficará o novo passe para Lisboa (77,14€), em quase o dobro do valor do passe da AML.
Se fizermos as contas, para obter uma maior poupança numa deslocação para trabalhar em Lisboa, um Arrudense poderá obter o passe para Alverca (que ficará em 43,75€) e depois o passe da AML de 40€ para se deslocar até Lisboa e dentro da cidade, mas claro está passando a manhã e a tarde a mudar de meios de transporte.
Nestas situações como em outras que só nos lembramos quando precisamos, levanta-se a questão: por que razão o concelho de Arruda dos Vinhos, com freguesias que estão bem mais perto da capital do que Freguesias de Vila Franca de Xira ou de Sesimbra, não pertence à AML?
É uma história que vem de longe. Há anos atrás alguns autarcas de Arruda, antevendo que a dinâmica da AML permitiria na altura e no futuro a obtenção de vantagens para os Arrudenses, defendiam, numa primeira fase, que o concelho integrasse a AML como observador. Essa era uma estratégia, para numa segunda fase, poder ser membro efetivo face à crescente e história vivência da população com os concelhos a sul.
No entanto, essa ideia não ganhou a força suficiente para ir em frente porque também havia quem argumentasse que tal opção acarretaria uma desvantagem significativa relativamente à arrecadação de fundos comunitários (o que seria um facto), uma vez que Arruda sairia da região Oeste (pertencente à zona centro) que é mais majorada para esse efeito do que a AML. Acresciam ainda a essa argumentação, as razões culturais e históricas que Arruda, pela sua ruralidade (de que sou defensor), deveria manter a sua ligação administrativa à região Oeste.
Embora entendendo esta linha de argumentação considero que a mesma não está alinhada com uma visão para o futuro.
É que, uma coisa pode não ter, necessariamente, a ver com a outra. Isto é, na verdade a organização administrativa do Oeste, pode ter servido para manter pequenos poderes ou fazer dar a entender que a mesma tem poder. Mas em termos práticos e visíveis para as populações as vantagens não são bem percetíveis. Por um lado, os fundos comunitários a repartir têm sido cada vez menos e a sua repartição, no mínimo questionável, tem sido para fins que já não correspondem às necessidades de um concelho como o de Arruda e, ainda faltaria fazer as contas se a migalha do bolo com chantilly da AML, não seria maior do que a fatia de pão que se recebe do Oeste.
Quanto à identidade cultural do Oeste podemos questionar: Para além da rota da vinha e do vinho (que não funciona) e da participação em Feiras de vinhos (que aliás se designam por vinhos da região de Lisboa) que faz o Oeste para uma coesão cultural e social ? há algum plano urbanístico, cultural ou Turístico para o Oeste de uma forma integrada ? Há uma feira ou evento que reúna a participação de todos os concelhos do Oeste ? há algum intercâmbio de atividades desportivas ou culturais entre os concelhos ? há algum fundo de emergência para acorrer a catástrofes naturais que aconteçam em algum concelho como sucedeu com as intempéries de 2009 e 2011 ou nos anos 80 ?
Oeste sim, se for por uma verdadeira região que lute pela sua identidade com ações concretas, que seja solidária e que reverta a riqueza criada em prol das populações. Assim valerá a pena lutar pela gestão de uma “região” administrativa.
Mas para simplesmente ser um palco de representações de regionalismos bacocos, então não, porque a realidade de Arruda é outra.
Nesse caso, como diz o velho ditado rural, talvez seja melhor optar por uma das colheitas do que ter das duas uma fraca produção.