Pesquisa: Irene Lisboa- Parte 1: Vida
Por Jorge da Cunha
12-06-2018 às 12:52
Iniciamos a colaboração no jornal Chafariz, nesta edição de junho de 2018, com o intuito de abordar temas relacionados com educação, literatura e cultura antropológica.
Durante o presente ano, e depois quando for oportuno, a começar já com este texto e o seguinte, que servirão de introdução, o tema a abordar será Irene Lisboa, uma vez que, este ano, se assinalam os 60 anos da sua morte.
Assim, começaremos por apresentar umas breves notas bioblibliográficas desta autora, que foi considerada pelos grandes escritores, poetas e académicos portugueses como uma das maiores escritoras do século XX. José Gomes Ferreira, em 1978, na “Breve introdução à poesia de Irene Lisboa”, referiu em letras maiúscula, como se gritasse: “PARA MIM É A MAIOR ESCRITORA DE TODOS OS TEMPOS PORTUGUESES”. Também Manuel Poppe, jornalista do Diário Popular, em 23 de novembro de 1973, escreveu: “Lembro-me muitíssimo bem de ouvir a José Régio o seguinte comentário acerca de Voltar atrás para quê?: ‘Se esta mulher se chamasse Tchekhov, o seu livro impunha-se em qualquer parte do mundo!’ Se esta mulher se chamasse Tchekhov...” Ora, não se chama Tchekhov, mas Irene Lisboa. Por isso, convido-vos a conhecê-la um pouco melhor.
Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu no dia de Natal de 1892, no casal da Murzinheira, Arranhó, concelho de Arruda dos Vinhos. Este casal e a Quinta de Monfalim eram propriedade da sua madrinha, D. Maria Guilhermina. Ali viveu com a sua mãe, Maria Joaquina (17 anos) até aos três anos. Depois, foi levada para Monfalim, com a irmã Rita, onde vivia a madrinha e o pai, Luís Emílio Vieira Lisboa (62 anos). Aos seis anos entra no Convento do Sacramento, em Lisboa. Da mãe, pouco mais se soube, apenas que deixou mais 4 filhos: Romana, Vitória, José Mateus e António. No Colégio do Sacramento, esteve Irene até ao 11 anos, frequentando depois, até aos 13, o Colégio Inglês. Em 1905, o pai juntou-se com D. Maria da Saudade, de quem teve 6 filhos. Os dois anos seguinte foram dramáticos para Irene Lisboa. Foi tirada do colégio e levada para Monfalim. Esteve quase ao abandono. Aos 15 anos, foi viver com a madrinha para Lisboa e entrou no Liceu Maria Pia. Aqui conheceu Ilda Moreira, de quem foi amiga o resto da vida. Em 1911, ingressou na Escola Normal Primária de Lisboa, onde tirou o curso de professora. Em 1915, terminou o curso da Escola Normal. Em 1920, Irene e Ilda tomaram posse de duas turmas de ensino infantil na Escola da Tapada na Ajuda. Os alunos, muito pobres, tinham entre 5 e 7 anos. Estas duas classes, pioneiras do ensino pré-primário público em Portugal, serviam de modelo a um ensino moderno e inovador.
Entretanto, em 1929, Irene Lisboa foi, como bolseira, para Genebra estudar psicologia e pedagogia. Esteve ainda em Bruxelas e Paris a estudar metodologias pedagógicas. Regressou a Lisboa em 1932. Em virtude de terem sido extintas as secções infantis, em 1936, Irene concorreu ao lugar de Inspetora para o Ensino Infantil, tendo ficado com o lugar de Inspetora-Orientadora em itinerância. Por ter sido demasiado inovadora para as mentes pequenas de então, Irene Lisboa foi, primeiro, transferida para um lugar administrativo na Junta de Educação Nacional; depois, em 1940, com 48 anos, deram-lhe duas opções: ficar com um lugar como professora na Escola Normal de Braga, ou reformar-se. Optou pela segunda situação, recusando o degredo e negando dobrar-se perante um sistema acéfalo, ou não fosse ela Irene Lisboa. Em 1940 visitou a terra da sua infância e adolescência (Arruda e Sobral), ficando numa casa alugada em Monfalim. Foi então que começou a escrever Voltar a trás para quê? Nessas férias, percorreu os lugares, serras e festas e recolheu fragmentos, depois utilizados em muitos dos seus textos. Leia-se, por exemplo, “Férias no campo”, em que a autora nos apresenta um relato de lugares, pessoas e costumes.
E era a este campo da sua infância, trazido pelo “vento da Murzinheira”, que ela regressava constantemente. (Continua no próximo número.)
Durante o presente ano, e depois quando for oportuno, a começar já com este texto e o seguinte, que servirão de introdução, o tema a abordar será Irene Lisboa, uma vez que, este ano, se assinalam os 60 anos da sua morte.
Assim, começaremos por apresentar umas breves notas bioblibliográficas desta autora, que foi considerada pelos grandes escritores, poetas e académicos portugueses como uma das maiores escritoras do século XX. José Gomes Ferreira, em 1978, na “Breve introdução à poesia de Irene Lisboa”, referiu em letras maiúscula, como se gritasse: “PARA MIM É A MAIOR ESCRITORA DE TODOS OS TEMPOS PORTUGUESES”. Também Manuel Poppe, jornalista do Diário Popular, em 23 de novembro de 1973, escreveu: “Lembro-me muitíssimo bem de ouvir a José Régio o seguinte comentário acerca de Voltar atrás para quê?: ‘Se esta mulher se chamasse Tchekhov, o seu livro impunha-se em qualquer parte do mundo!’ Se esta mulher se chamasse Tchekhov...” Ora, não se chama Tchekhov, mas Irene Lisboa. Por isso, convido-vos a conhecê-la um pouco melhor.
Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu no dia de Natal de 1892, no casal da Murzinheira, Arranhó, concelho de Arruda dos Vinhos. Este casal e a Quinta de Monfalim eram propriedade da sua madrinha, D. Maria Guilhermina. Ali viveu com a sua mãe, Maria Joaquina (17 anos) até aos três anos. Depois, foi levada para Monfalim, com a irmã Rita, onde vivia a madrinha e o pai, Luís Emílio Vieira Lisboa (62 anos). Aos seis anos entra no Convento do Sacramento, em Lisboa. Da mãe, pouco mais se soube, apenas que deixou mais 4 filhos: Romana, Vitória, José Mateus e António. No Colégio do Sacramento, esteve Irene até ao 11 anos, frequentando depois, até aos 13, o Colégio Inglês. Em 1905, o pai juntou-se com D. Maria da Saudade, de quem teve 6 filhos. Os dois anos seguinte foram dramáticos para Irene Lisboa. Foi tirada do colégio e levada para Monfalim. Esteve quase ao abandono. Aos 15 anos, foi viver com a madrinha para Lisboa e entrou no Liceu Maria Pia. Aqui conheceu Ilda Moreira, de quem foi amiga o resto da vida. Em 1911, ingressou na Escola Normal Primária de Lisboa, onde tirou o curso de professora. Em 1915, terminou o curso da Escola Normal. Em 1920, Irene e Ilda tomaram posse de duas turmas de ensino infantil na Escola da Tapada na Ajuda. Os alunos, muito pobres, tinham entre 5 e 7 anos. Estas duas classes, pioneiras do ensino pré-primário público em Portugal, serviam de modelo a um ensino moderno e inovador.
Entretanto, em 1929, Irene Lisboa foi, como bolseira, para Genebra estudar psicologia e pedagogia. Esteve ainda em Bruxelas e Paris a estudar metodologias pedagógicas. Regressou a Lisboa em 1932. Em virtude de terem sido extintas as secções infantis, em 1936, Irene concorreu ao lugar de Inspetora para o Ensino Infantil, tendo ficado com o lugar de Inspetora-Orientadora em itinerância. Por ter sido demasiado inovadora para as mentes pequenas de então, Irene Lisboa foi, primeiro, transferida para um lugar administrativo na Junta de Educação Nacional; depois, em 1940, com 48 anos, deram-lhe duas opções: ficar com um lugar como professora na Escola Normal de Braga, ou reformar-se. Optou pela segunda situação, recusando o degredo e negando dobrar-se perante um sistema acéfalo, ou não fosse ela Irene Lisboa. Em 1940 visitou a terra da sua infância e adolescência (Arruda e Sobral), ficando numa casa alugada em Monfalim. Foi então que começou a escrever Voltar a trás para quê? Nessas férias, percorreu os lugares, serras e festas e recolheu fragmentos, depois utilizados em muitos dos seus textos. Leia-se, por exemplo, “Férias no campo”, em que a autora nos apresenta um relato de lugares, pessoas e costumes.
E era a este campo da sua infância, trazido pelo “vento da Murzinheira”, que ela regressava constantemente. (Continua no próximo número.)