O Mestre de Arruda dos Vinhos e a pintura portuguesa do século XVI
Por Ana Raquel Machado*
11-04-2018 às 21:37
A pintura atribuída ao Mestre de Arruda dos Vinhos, nome de conveniência deste pintor do século XVI, cuja excelente qualidade pictórica se evidencia, a par de um singular estilo de autor, como definiu o Professor Catedrático e Historiador de Arte Vítor Serrão, é composta por cerca de trinta obras documentadas. Registam-se pinturas da sua autoria em locais como: Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos, Igreja Matriz de Cascais, Capela do Corpo Santo (Funchal), Igreja de Nossa Senhora da Luz da Ponta do Sol (Madeira), Igreja de Santa Cruz da Graciosa (Açores) e no Hospital da Luz (Carnide).
A análise cuidada da sua obra pictural, assim como o seu nível composicional, tipos e formas do desenho, leva-nos a situar este artista lisboeta em meados de quinhentos, sendo ainda desconhecida a sua identidade, cujo nome de Cristóvão Lopes, filho de Gregório Lopes, tem sido apontado. Embora sem se encontrar nenhuma resposta definitiva são ainda tidos em conta pintores como Cristóvão de Utrecht, Cristóvão de Figueiredo ou Brás Gonçalves para a identificação deste mestre.
Do mestre português quinhentista estão a ornar a capela-mor da Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos (Paroquial de Nossa Senhora da Salvação) sete tábuas: Sant’Ana e S. Joaquim, Visitação, Morte da Virgem, Coroação da Virgem, S. João Baptista, S. Pedro e uma sétima junto ao baptistério, a Assunção da Virgem.
Segundo a documentação são conhecidos, ao longo dos séculos, quatro oragos da Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos: Santa Maria da Arruda, Nossa Senhora do Pranto, Assunção e Nossa Senhora da Salvação. A primeira, invocação do tempo de D. Afonso Henriques, ter-se-á mantido até ao século XV. Nossa Senhora do Pranto, cuja imagem se conserva na capela comunicante do lado do Evangelho, trata-se de uma escultura quatrocentista, gótica e em pedra policromada, foi provavelmente imagem tutelar do templo e alvo de grande devoção no final da Idade Média. Do património pictural que remanesce na igreja encontram-se importantes obras do Mestre de Arruda dos Vinhos cuja Assunção da Virgem terá feito parte de um retábulo que se encontrava no presbitério, do qual se conhecem sete pinturas da época de D. João III, sendo ainda descrita nesta data como “Igreja de Nossa Senhora da Assunção da vila de Arruda”.
Os antecedentes formais e expressivos de Cristóvão Lopes, Garcia Fernandes e Diogo de Contreiras estão presentes na obra deste artista, cuja actividade artística se baliza entre 1540 a 1560. O pintor lisboeta de órbita contreiresca insere-se no Maneirismo experimental, dentro do novo gosto do Renascimento com aberturas ao novo figurino do Maneirismo, reflectindo-se nas figuras, adereços, poses, gestualidade, objectos, acessórios, motivos de decoração de tecidos e tipo de casario longínquo.
A análise cuidada da sua obra pictural, assim como o seu nível composicional, tipos e formas do desenho, leva-nos a situar este artista lisboeta em meados de quinhentos, sendo ainda desconhecida a sua identidade, cujo nome de Cristóvão Lopes, filho de Gregório Lopes, tem sido apontado. Embora sem se encontrar nenhuma resposta definitiva são ainda tidos em conta pintores como Cristóvão de Utrecht, Cristóvão de Figueiredo ou Brás Gonçalves para a identificação deste mestre.
Do mestre português quinhentista estão a ornar a capela-mor da Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos (Paroquial de Nossa Senhora da Salvação) sete tábuas: Sant’Ana e S. Joaquim, Visitação, Morte da Virgem, Coroação da Virgem, S. João Baptista, S. Pedro e uma sétima junto ao baptistério, a Assunção da Virgem.
Segundo a documentação são conhecidos, ao longo dos séculos, quatro oragos da Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos: Santa Maria da Arruda, Nossa Senhora do Pranto, Assunção e Nossa Senhora da Salvação. A primeira, invocação do tempo de D. Afonso Henriques, ter-se-á mantido até ao século XV. Nossa Senhora do Pranto, cuja imagem se conserva na capela comunicante do lado do Evangelho, trata-se de uma escultura quatrocentista, gótica e em pedra policromada, foi provavelmente imagem tutelar do templo e alvo de grande devoção no final da Idade Média. Do património pictural que remanesce na igreja encontram-se importantes obras do Mestre de Arruda dos Vinhos cuja Assunção da Virgem terá feito parte de um retábulo que se encontrava no presbitério, do qual se conhecem sete pinturas da época de D. João III, sendo ainda descrita nesta data como “Igreja de Nossa Senhora da Assunção da vila de Arruda”.
Os antecedentes formais e expressivos de Cristóvão Lopes, Garcia Fernandes e Diogo de Contreiras estão presentes na obra deste artista, cuja actividade artística se baliza entre 1540 a 1560. O pintor lisboeta de órbita contreiresca insere-se no Maneirismo experimental, dentro do novo gosto do Renascimento com aberturas ao novo figurino do Maneirismo, reflectindo-se nas figuras, adereços, poses, gestualidade, objectos, acessórios, motivos de decoração de tecidos e tipo de casario longínquo.
Para o presente estudo importa-nos analisar a série da Igreja de Santa Cruz da Graciosa com fortes paralelismos à de Arruda dos Vinhos. A Igreja da Santa Cruz, de origem quinhentista e muito alterada por reconstrução entre 1722 e 1743, ostenta seis pinturas atribuídas ao Mestre de Arruda dos Vinhos: Pentecostes, Caminho do Calvário, Calvário, Deposição de Cristo, Santa Helena e a Invenção da Cruz e O Imperador Heráclio e a Exaltação da Santa Cruz. O recente restauro destas tábuas coube ao Atelier de Conservação e Restauro de Obras de Arte São Jorge.
Em 1941 as pinturas foram pela primeira vez notadas por Hipólito Raposo, advogado e monárquico, exilado ao tempo na ilha. Segundo o autor, a encomenda terá ficado a cargo do capitão-donatário D. Álvaro Coutinho que terá mandado pintar na capital o retábulo desta igreja ao Mestre de Arruda dos Vinhos.
Com efeito, os temas iconográficos das seis pinturas remanescentes pertencem ao ciclo da vida de Cristo e em Arruda, as setes mencionadas, ao ciclo da vida da Virgem.
A Virgem Maria, rodeada pelos Apóstolos e Santas Mulheres, todos nimbados, recebem a luz e o fogo do Espírito Santo no Cenáculo de Jerusalém, apresenta o Pentecostes, sendo ainda possível observar no pavimento, junto aos pés da Virgem, uma cruz da ordem de Malta.
O Caminho do Calvário revela a imagem de Cristo, vergado ao peso da Cruz e flagelado por um dos soldados, vestidos com finas e ricas armaduras, enquanto Simão Cireneu procura aliviar o peso do madeiro. Ao fundo avista-se o típico casario de Jerusalém. Um pormenor de especial interesse diz respeito à cesta de vime com os chamados martírios ou instrumentos da Paixão.
O Calvário apresenta elegante modelação do nu e um particular sfumato atmosférico que remete para o Calvário da Igreja de São Quintino (Sobral de Monte Agraço), atribuído a Diogo de Contreiras, anteriormente designado de Mestre de São Quintino, cuja identificação coube ao Historiador de Arte Joaquim Caetano.
A pose dramática das mulheres chorosas é comum às duas tábuas. Na tábua graciosense pode observar-se a Virgem Maria, Madalena e Santas Mulheres, a figura aureolada de S. João Evangelista, José de Arimateia e Nicodemus, cujo céu mostra espessas nuvens e uma trágica escuridão eminente.
Em 1941 as pinturas foram pela primeira vez notadas por Hipólito Raposo, advogado e monárquico, exilado ao tempo na ilha. Segundo o autor, a encomenda terá ficado a cargo do capitão-donatário D. Álvaro Coutinho que terá mandado pintar na capital o retábulo desta igreja ao Mestre de Arruda dos Vinhos.
Com efeito, os temas iconográficos das seis pinturas remanescentes pertencem ao ciclo da vida de Cristo e em Arruda, as setes mencionadas, ao ciclo da vida da Virgem.
A Virgem Maria, rodeada pelos Apóstolos e Santas Mulheres, todos nimbados, recebem a luz e o fogo do Espírito Santo no Cenáculo de Jerusalém, apresenta o Pentecostes, sendo ainda possível observar no pavimento, junto aos pés da Virgem, uma cruz da ordem de Malta.
O Caminho do Calvário revela a imagem de Cristo, vergado ao peso da Cruz e flagelado por um dos soldados, vestidos com finas e ricas armaduras, enquanto Simão Cireneu procura aliviar o peso do madeiro. Ao fundo avista-se o típico casario de Jerusalém. Um pormenor de especial interesse diz respeito à cesta de vime com os chamados martírios ou instrumentos da Paixão.
O Calvário apresenta elegante modelação do nu e um particular sfumato atmosférico que remete para o Calvário da Igreja de São Quintino (Sobral de Monte Agraço), atribuído a Diogo de Contreiras, anteriormente designado de Mestre de São Quintino, cuja identificação coube ao Historiador de Arte Joaquim Caetano.
A pose dramática das mulheres chorosas é comum às duas tábuas. Na tábua graciosense pode observar-se a Virgem Maria, Madalena e Santas Mulheres, a figura aureolada de S. João Evangelista, José de Arimateia e Nicodemus, cujo céu mostra espessas nuvens e uma trágica escuridão eminente.
A Deposição de Cristo, onde o corpo de Cristo se encontra deitado sobre o lençol de mortalha, exibindo ao lado um vaso de aroma ou bálsamo, exibe na cena a presença de quatro Santas Mulheres, São João Evangelista, José de Arimateia, Nicodemus e outra figura de homem. O Monte Calvário expõe três cruzes erguidas, estando as dos lados pendentes, com os corpos do Bom e do Mau Ladrão. O céu é repetidamente escuro, como acima mencionámos.
Santa Helena e a Invenção da Cruz conta o episódio que data de 326 com a descoberta da Cruz de Cristo por Santa Helena, e a recuperação da mesma, em 628, pelo imperador bizantino Heráclio que a reconquistou aos Persas e a levou às costas para Jerusalém, cena patente na tábua O Imperador Heráclio e a Exaltação da Santa Cruz. Na primeira pode observar-se a Imperatriz Helena e o seu séquito, onde se identifica o Bispo Macário, magistrados e povo. A segunda ostenta um cortejo imperial detido da porta de Jerusalém, fechada, denotando-se o espanto dos soldados. O imperador Heráclio alça a Cruz nos braços, montado no cavalo branco, cuja cena é acompanhada pelo povo e soldados erguendo lanças e bandeiras.
*Licenciatura em História da Arte e Mestrado em Arte, Património e Teoria do Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pós-graduação em Gestão Cultural pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.
Santa Helena e a Invenção da Cruz conta o episódio que data de 326 com a descoberta da Cruz de Cristo por Santa Helena, e a recuperação da mesma, em 628, pelo imperador bizantino Heráclio que a reconquistou aos Persas e a levou às costas para Jerusalém, cena patente na tábua O Imperador Heráclio e a Exaltação da Santa Cruz. Na primeira pode observar-se a Imperatriz Helena e o seu séquito, onde se identifica o Bispo Macário, magistrados e povo. A segunda ostenta um cortejo imperial detido da porta de Jerusalém, fechada, denotando-se o espanto dos soldados. O imperador Heráclio alça a Cruz nos braços, montado no cavalo branco, cuja cena é acompanhada pelo povo e soldados erguendo lanças e bandeiras.
*Licenciatura em História da Arte e Mestrado em Arte, Património e Teoria do Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pós-graduação em Gestão Cultural pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.